
Há cerca de 10 anos o meu pai foi operado ao coração, a operação não teve sucesso pretendido o que originou uma segunda no mesmo dia, esta na sala dos cuidados intensivos. O médico que o operou, e que não o deixou nas mãos de mais nenhum fez o possível e o impossível para o salvar, conseguiu é um facto. O meu pai passados 10 anos está saudável, nunca mais sofreu do mesmo, nem teve de voltar à faca. Lembro-me no entanto, e nos tempos que correm mais ainda, uma frase que ele nos disse quando a minha mãe perguntou se ele ia ficar bem e saudável: “o que importa é salvar-lhe a vida, depois logo se vê o estado em que fica”, lembro-me mais ainda da resposta: “se for para o meu pai ficar refém de uma cama, não perca tempo a salva-lo”, pode parecer-vos duro o que disse, mas para mim foi apenas e só um acto de amor que espero que o tenham comigo se eu um dia estiver numa situação semelhante.
Hoje em dia e quando leio o “vamos ficar bem” decorado com brilhantes arco-íris acabo por associar o que passamos com aquilo que me disse o Doutor há tantos anos atrás. Sim vamos ficar bem, mas vamos ficar a mexer ou vamos ficar agarrados à máquina, comatosos sem futuro, sem soluções, sem saber o que fazer para puder progredir com uma vida saudável e condigna?
Atenção que eu não sou contra o estado de emergência, nem me acho comentadora politica de sofá e pantufas, estou apenas a pensar até que ponto anda meia dúzia a remar a favor da maré enquanto que outra meia ou saltou do barco ou não distingue bombordo de estibordo.
Não, infelizmente não vamos ficar todos bem, porque o ser humano é aquele bichinho maravilhoso que não aprende e cujo o seu umbigo é sempre mais importante que o outro. Não, não vamos ficar todos mais unidos numa roda a cantar o kumbaya enquanto unicórnios voam e soltam peidos com as cores do arco-íris.
Vivemos uma época difícil, de decisões impossíveis e duras. Vivemos uma época onde nem todos vão sair sãos, onde muitos vão sucumbir ao desespero, a desilusão e à angustia… há impotência que se planta na alma quando não pudemos fazer nada.
A ironia disto tudo? Até a pouco tempo debatíamos até que ponto os médicos violavam o seu juramento quando se falava em eutanásia… agora pedimos que decidam quem vive e quem morre… e o paciente? Esse já não tem voto na matéria.
O luto vai continuar muitos meses depois de isto passar… famílias vão perder membros , fonte de sustento, sonhos, negócios e sanidade… por isso não! Não vamos ficar todos bem, não vamos ficar enquanto nos limitarmos a pensar que arco-íris e frases chavão no facebook, vidros dos carros ou janelas fechadas for a única coisa que façamos pelos outros. Pudemos até ficar minimamente melhor se nos lembrarmos que estamos todos no mesmo barco.
Uma raça, uma nação, uma luta, uma escalada, um só povo! Sem egos, nem frases feitas… nem vontades fajutas de abraços. Mas com união e vontade de vencer!
Mantenham-se fortes, mantenham-se sãos e lembrem-se mesmo que não fique tudo bem estaremos cá, pelo menos aqueles que continuam a remar, para fazer o que for possível.
Namasté _()_
“Nas nossas vidas, a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo o que é ruim.
Buda”